Zuzu Angel

Zuleika de Souza Netto, mais conhecida como Zuzu Angel, foi uma estilista brasileira conhecida pelo seu trabalho inovador de fazer moda com inspirações e identidades nacionais. O pioneirismo lhe rendeu prestígio nacional e internacional se tornando a primeira estilista mulher do Brasil. Também foi umas das personalidades marcantes na luta de oposição contra a violência da ditadura militar brasileira após o assassinato de seu filho.

No dia 5 de junho de 1921 nascia Zuleika de Souza Netto, em Curvelo, Minas Gerais. Na infância mudou-se com a família para Belo horizonte e lá passou a adolescência onde exercia o ofício de costureira para ela mesma, para os filhos e amigas.

Em 1940 conheceu Norman Angel Jones, canadense naturalizado norte-americano, com quem se casou em 1943, deslocando-se para Salvador, na Bahia. Seu primeiro filho, Stuart Edgart, nasceu em 1945, e um ano depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, então capital federal, onde teve suas duas filhas: Ana Cristina e a caçula Hildegard.

A partir de 1957, Zuzu começou a costurar para outras pessoas além da própria família. Primeiro foram saias, depois blusas e quando viu já estava participando significativamente do cenário da moda carioca. O sucesso possibilitou a expansão dos negócios realizando desfiles de moda nos Estados Unidos.

Devido a constantes divergências conjugais, separou-se do marido em 1961 e desquitou-se em 1970.

Em uma época em que os estilistas brasileiros reproduziam as influências do exterior, Zuzu Angel destacou-se por inspirar-se na cultura nacional e no uso de materiais nobres, como a renda e a seda, trabalhados com materiais cotidianos como fitas, chita, pedras, madeira, bambu, conchas…

Produziu peças para atrizes nacionais e norte-americanas; participou de feiras de moda tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos; fez vestidos de noiva; usava e abusava da temática nacionalista em cores, estampas, bordados e rendas; fez coleção para magazines norte-americanas; criou figurinos para o cinema e para o teatro; ganhou prêmios por sua atuação na moda; criou bolsas; vestiu uma primeira-dama; abriu loja no Rio de Janeiro; abriu escritórios no exterior; desenvolveu coleções a ser lançadas nos Estados Unidos; entre inúmeras ações de ordem social, cultural e econômica.

Na segunda metade dos anos de 1960, Stuart Angel, primogênito de Zuzu, passou a integrar as organizações de esquerda que combatiam a ditadura militar no Brasil, filiando-se ao MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro). Em 1971, aos 26 anos, foi preso no Rio de Janeiro e desapareceu.

Zuzu iniciou uma busca pelo seu filho em quartéis, presídios, e onde pudesse receber informações de seu paradeiro, quando recebeu uma carta de outro preso político dizendo que este havia testemunhado o assassinato de Stuart. A partir daí Zuzu inicia sua saga em busca da recuperação do corpo de seu filho para que lhe pudesse dar um sepultamento digno.

Utilizando-se de seu ofício e talento, Zuzu denuncia publicamente a morte de seu filho e a situação político-social do Brasil. Como forma de protesto utilizava em suas coleções bordados e estampas com temática de anjos feridos, canhões de guerra, quepes militares, grades de prisão, pássaros engaiolados e inúmeros desenhos que testemunhassem sua dor e seu sofrimento. Ao se apresentar publicamente, sempre o fazia vestida de preto, como sinal de luto. Ela apresentou nos Estados Unidos o “primeiro desfile de moda de protesto político”, conforme anunciado pela imprensa mundial, denunciando as torturas no Brasil.

Parte de documento manuscrito assinado por Zuzu Angel
atestando o receio de ser vitimada por um atentado.
23/04/1975.

Na madrugada de 14 de abril de 1976, Zuzu perde o controle do carro ao sair do Túnel Dois Irmãos (na Estrada da Gávea, Rio de Janeiro). O carro dirigido por ela derrapou na saída do túnel e saiu da pista, chocou-se contra a mureta de proteção, capotando e caindo na estrada abaixo, matando-a no que a ditadura classificou como um acidente automobilístico. 22 anos depois, em 1998, a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos julgou o caso sendo reconhecida a sabotagem e a emboscada de sua morte pelo regime militar. No relatório final da Comissão publicado em 2007, depoimentos de testemunhas oculares do ocorrido afirmaram terem visto o carro de Zuzu ser jogado para fora da pista por um carro pilotado por agentes da repressão.

O legado de Zuzu permanece até os dias atuais em contínuas homenagens e na cultura popular. A canção “Angélica” de Chico Buarque foi composta em 1977 dedicada a homenageá-la. O túnel onde Zuzu faleceu, que liga o bairro da Gávea a São Conrado no Rio de Janeiro, foi rebatizado com o nome da estilista. Sua filha Hildegard Angel passou a reunir o acervo de sua mãe e em 1993 fundou o “Instituto Zuzu Angel de Moda da Cidade do Rio de Janeiro” visando difundir o legado da moda e a memória dos Angel. A Escola de Samba Em Cima da Hora fez sua homenagem no Carnaval em 1998, com o enredo “Quem é você, Zuzu Angel? Um anjo feito mulher”.

Doodle do Google presta homenagem à estilista Zuzu Angel

A vida da estilista foi retratada em 2003 em um episódio no programa policial Linha Direta, e em 2006 no filme “Zuzu Angel”, protagonizada por Patrícia Pillar. Em 2017 seu nome foi inserido no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria” que fica em exposição permanente no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves.

Todas as imagens contidas nesta página estão disponíveis no site do Instituto Zuzu Angel e podem ser visualizadas clicando aqui . A Prefeitura de Curvelo agradece à Hildegard Angel por nos permitir reproduzir este material. O Instituto Zuzu Angel autoriza o uso das imagens para atividades acadêmicas, educacionais e culturais sem fins lucrativos mediante cadastro prévio no site do instituto.

Fontes:
BRAGA, João. Eu sou a moda brasileira, revista Itaú Cultural, Abril, 2014.